sábado, 28 de setembro de 2013

Nevicom Apresenta Resultados do Grupo Sermais


O Grupo Nevicom (Núcleo de Estudos da Violência contra a mulher) iniciou em janeiro de 2013 um trabalho junto aos homens que foram sentenciados pela Lei Maria da Penha. A estes homens foi substituída a “Pena Privativa de Liberdade” pela “Restritiva de Direitos”, que consiste no comparecimento semanal ao Grupo de Reflexão por um período de quatro meses.
Este Grupo dos autores da violência doméstica e familiar contra a mulher, denominado de “Grupo Sermais” tem o objetivo de fazer com que estes homens também sejam ouvidos, e que possam a partir da reconstrução da sua história, ter a possibilidade de reescrevê-la de forma que a violência não seja mais uma opção. Temas como gênero, alienação parental e família também são trabalhados com os autores da violência, bem como saúde masculina e a própria Lei Maria da Penha.
O NEVICOM finalizou o primeiro grupo em julho de 2013, e no dia 16 de agosto a equipe do Nevicom apresentou seus resultados para as Juízas que atuam junto à Vara da Violência Doméstica, as Drª.Alessandra Pimentel Munhoz do Amaral, Drª Larissa A. C. Muniz e a promotora Drª. Adélia Souza Simões.
 O grupo Sermais é composto por uma equipe multidisciplinar com estagiários de psicologia da Faculdade Sant’ana, e de serviço social e direito da UEPG, tendo como coordenadores, profissionais de Direito, Serviço Social e Psicologia.

 
Na apresentação, a Dra. Laryssa (que também é idealizadora e voluntária do projeto) ressaltou a importância da existência do mesmo, “porque a finalidade última da lei é a reeducação do agressor no que tange aos conceitos e valores que vieram a determinar a prática da infração”, que apenas pode ser atingida com a reflexão dos próprios autores sobre seu comportamento.   
Salientou ainda que o Poder Judiciário tem que atuar para além da aplicação de medidas punitivas, mas também no âmbito social.
Para isso citou Victor Hugo fazendo um paralelo entre o livro “O Corcunda de Notre Dame” e sua prática jurídica. Contou de uma passagem do livro onde o Corcunda que é surdo, é julgado por um juiz, também surdo. A partir desta passagem da história o corcunda responde o que não ouve, e o juiz pergunta sem ouvir supondo uma resposta.
 
Conforme citação do livro :

“Mas há um caso que não tinha sido previsto: um surdo interrogando outro. Quasímodo, sem ser informado da pergunta a ele dirigida, continuou a olhar o juiz fixamente e não respondeu.juiz, que não fora informado da surdez do acusado, pensou que ele houvesse respondido como faziam em geral todos os acusados.”


Por fim, a Drª.Larissa terminou sua fala , “dizendo que o Grupo Sermais dava a certeza de que não seria mais um caso de um juiz surdo aplicando uma sentença em que a pessoa que o recebia sequer tinha consciência do motivo pelo qual havia recebido a pena; sabia que para aqueles homens que haviam participado do grupo algo havia mudado, alguma coisa havida sido feita no sentido de que esses comportamentos pudessem ser modificados. Para eles, o Grupo havia feito a diferença.
 

 

Por: Aurea Lúcia Pioli - Estagiária do Curso de Psicologia, Luana Billerbeck - Coordenadora do Nevicom e  Mariana Coelho Guidotti - Estagiária de Direito do Nevicom
 

Como conversar com meninas


Este texto da Lisa Bloom nos faz pensar no quanto pequenas atitudes na educação das crianças podem modificar comportamentos sociais de décadas. Então da próxima vez que for conversar com uma menina, tente segurar o impulso de dizer apenas o quanto ela é linda para ressaltar e estimular outras qualidades e potencialidades que ela já tem ou pode desenvolver.



 
Como conversar com meninas

Eu fui a um jantar na casa de uma amiga na semana passada, e encontrei sua filha de 5 anos pela primeira vez. A pequena Maya tinha os cabelos castanhos e cacheados, olhos escuros, e estava adorável em seu vestidinho rosa e brilhante. Eu queria gritar, “Maya você é tão fofa! Veja só! Dê uma voltinha e desfile esse vestidinho rosa, sua coisinha linda!”

Mas eu não fiz isso. Eu me contive. Como sempre me contenho quando conheço garotinhas, negando meu primeiro impulso, que é dizer o quão fofas/lindas/bonitas/bem vestidas/de unhas feitas/cabelo arrumado elas são/estão.

“O que há de errado nisso? É a conversa padrão de nossa cultura para quebrar o gelo com as meninas, não é? E por que não fazer-lhes um elogio sincero para elevar suas auto-estimas? Porque elas são tão lindas que eu simplesmente quero explodir de tanta fofura quando as encontro, sinceramente.”

Guarde este pensamento por um tempo.

Esta semana a ABC News informou que quase metade das meninas de 3 a 6 anos se preocupam por estarem gordas. No meu livro, Think: Straight Talk for Women to Stay Smart in a Dumbed-Down World, eu revelo que 15 a 18% das meninas com menos de 12 anos usam rímel, delineador e batom regularmente; distúrbios alimentares estão em alta e a auto-estima está em baixa; e 25% das jovens mulheres americanas prefeririam vencer o America’s Next Top Model a ganhar o prêmio Nobel da Paz. Até universitárias inteligentes e bem sucedidas dizem que preferem ser ‘gostosas’ a serem inteligentes. Recentemente uma mãe de Miami morreu durante uma cirurgia estética, deixando dois filhos adolescentes. Isso não pára de acontecer, e isso parte o meu coração.

Ensinar as meninas que a aparência delas é a primeira coisa que se nota ensina a elas que o visual é mais importante do que qualquer outra coisa. Isso as leva a fazer dieta aos 5 anos de idade, usar base aos 11, implantar silicone aos 17 e aplicar botox aos 23. Enquanto a exigência cultural de que as garotas sejam lindas 24 horas por dia se torna regra, as mulheres têm se tornado cada vez mais infelizes. O que está faltando? Um sentido para a vida, uma vida de idéias e livros e de sermos valorizadas por nossos pensamentos e realizações.

Eu me esforço para falar com as meninas assim:

“Maya,” eu disse, me ajoelhando até ficar da sua altura, olhando em seus olhos, “prazer em conhecê-la”.

“O prazer é todo meu,” ela disse, com a voz já bem treinada e educada para falar com adultos como uma boa menina.

“Hey, o que você está lendo?” Perguntei, com um brilho nos olhos. Eu amo livros. Sou louca por eles. Eu deixo isso transparecer.

Seus olhos ficaram maiores, e ela demonstrou uma empolgação genuína, mas contida, sobre o assunto. Ela pausou, no entanto, tímida por estar com um adulto desconhecido.

“Eu AMO livros,” eu disse. “E você?”

A maioria das crianças gosta de livros.

“SIM,” ela disse. “E agora eu consigo ler sozinha!”

“Que incrível!” eu disse. E é incrível, para uma menina de 5 anos.

“Qual é o seu livro preferido?” perguntei.

“Vou lá pegar! Posso ler pra você?”

Purplicious foi a escolha de Maya, um livro novo para mim, e Maya se sentou junto a mim no sofá e leu com orgulho cada palavra em voz alta, sobre a nossa heroína que adora rosa mas é perturbada por um grupo de garotas na escola que só usam preto. Infelizmente, o livro era sobre garotas e o que elas vestiam, e como suas escolhas de roupas definiam suas identidades. Mas depois que Maya virou a última página, eu conduzi a conversa para as questões mais profundas do livro: meninas más e pressão dos colegas, e sobre não seguir a maioria. Eu contei pra ela que minha cor preferida é o verde, porque eu amo a natureza, e ela concordou com isso.

Em nenhum momento nós discutimos sobre as roupas, o cabelo, o corpo ou quem era bonita. É surpreendente o quão difícil é se manter longe desses tópicos com meninas pequenas, mas eu sou teimosa!

Eu falei para ela que eu tinha acabado de escrever um livro, e que eu esperava que ela escrevesse um também, algum dia. Ela ficou bastante empolgada com essa ideia. Nós duas ficamos muito tristes quando Maya teve que ir pra cama, mas eu disse a ela para da próxima vez escolher outro livro para lermos e falarmos sobre ele. Ops! Isso a deixou animada demais para dormir, e ela levantou algumas vezes…

Aí está, um pouquinho de oposição a uma cultura que passa todas as mensagens erradas para as nossas meninas. Um empurrãozinho em direção à valorização do cérebro feminino. Um breve momento sendo um modelo a ser seguido, intencionalmente. Meus poucos minutos com a Maya vão mudar a multibilionária indústria da beleza, os reality shows que diminuem as mulheres, a nossa cultura maníaca por celebridades? Não. Mas eu mudei a perspectiva de Maya por pelo menos aquela noite.

Tente isto da próxima vez que você conhecer uma garotinha. Ela pode ficar surpresa e incerta no começo, porque poucos perguntam sobre sua mente, mas seja paciente e insista. Pergunte-a o que ela está lendo. Do que ela gosta ou não gosta, e por quê? Não existem respostas erradas. Você apenas está gerando uma conversa inteligente que respeita o cérebro dela. Para garotas mais velhas, pergunte sobre eventos atuais: poluição, guerras, cortes no orçamento para educação. O que a incomoda no mundo? Como ela consertaria se tivesse uma varinha mágica? Você pode receber algumas respostas intrigantes. Conte a ela sobre suas ideias e conquistas e seus livros preferidos. Mostre para ela como uma mulher pensante fala e age.

 Por: Aurea Lúcia Pioli - Estagiária do Curso de Psicologia do Nevicom