terça-feira, 31 de maio de 2011

Amor?, o filme sobre violência doméstica

O filme Amor?, do cineasta João Jardim, retrata oito histórias verídicas envolvendo amor e violência, lançando luz ao tema da violência doméstica, especialmente contra a mulher, uma realidade presente em milhões de lares brasileiros e considerada uma preocupação para 56% das mulheres brasileiras, segundo pesquisa do Ibope e do Instituto Avon, realizada em 2009.
 
Calcula-se que, no País, metade das mulheres agredidas sofra sem pedir ajuda. Os agressores são maridos, companheiros ou ex-companheiras. Entre as que não denunciam, as razões são: dependência financeira (24%), medo de serem mortas caso rompam a relação (17%) ou vergonha de admitir a agressão (8%).

Heloísa Passos/Divulgação
A atriz Mariana Lima em cena do filme 'Amor?', que coletou mais de 60 depoimentos
Com base na experiência de 20 anos à frente da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher, em São Paulo, a delegada Celi Paulino Carlota identificou uma trajetória comum entre os casos que chegam à polícia. A primeira fase da violência é falar alto e perder o respeito. Depois vêm as ofensas morais e o empurrão. Daí, para o pior. Muitos agressores se arrependem, prometem mudar, dão presentes e, assim, convencem a mulher de que tudo ficará bem. Ledo engano. O ciclo se repete e a violência volta com mais intensidade. "O erro é dar mais uma oportunidade, mas a ameaça pode ser concretizada e isso pode levar à morte", avalia a delegada.

Graças à Lei Maria da Penha (leia texto ao lado), a violência doméstica contra a mulher deixou de ser um crime de menor poder ofensivo. E, com a maior divulgação do tema, as denúncias estão crescendo. Houve aumento de 123% no número de queixas à Central de Atendimento a Mulher - Ligue 180, da Secretaria de Política para as Mulheres (SPM), na comparação entre 2009 e 2010.

Além de penas mais rigorosas, houve ganhos de agilidade. O processo, que antes passava por dois juízes, atualmente é resolvido por um só. "A delegacia tem 48 horas para enviar o processo para o juizado e, este, 48 horas para responder. O mesmo juiz que vai julgar a lesão também vai afastar o agressor do lar", explica a delegada Celi. A lei prevê a saída do agressor de casa, proteção dos filhos, distância mínima
entre eles e, em casos extremos, abrigo para a mulher.
Não bastasse todo o trauma, a violência doméstica também tem um custo social. Segundo dados do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, um em cada cinco dias de falta ao trabalho no mundo é causado pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas. A instituição estima que o custo total da violência doméstica varia de 1,6% a 2% do PIB de um país.

Passado um ano do seu segundo casamento, o músico carioca Walter (nome fictício), de 51 anos, foi parar na delegacia por agredir seriamente sua mulher. Como trabalham juntos, as pessoas mais próximas ficaram sabendo. Na delegacia, reparou num cartaz anunciando o Noos - uma ONG que trabalha para a prevenção e interrupção da violência intrafamiliar e de gênero, entre outras coisas -, e foi procurá-los. Hoje, diz que aprendeu a controlar a pressão. "Aprendi a me proteger das emoções externas, a não chegar mais àquele estado."

Para além das estatísticas, é difícil enxergar a presença de razão nos relatos de violência. "Impressionante como se chega ao ponto em que matar ou não matar depende de um segundo, literalmente de uma fagulha, um barulho qualquer que desvie a atenção, tire a concentração, afaste a pessoa da vertigem", afirma a jornalista Renée Castelo Branco, responsável pela coleta e análise de mais de 60 depoimentos para o filme Amor? em delegacias de polícia, juizados e organizações de proteção e apoio, tanto a mulheres vítimas de agressão quanto a homens agressores.

Após a experiência de ouvir tantos relatos, Renée não afirma categoricamente que amor e violência são indissociáveis, mas acredita que praticamente todas as relações de amor resvalam, em algum momento, para algum tipo de violência. "Basta olhar em volta e ver como as pessoas se comportam, com relação aos filhos, aos namorados e namoradas, aos pais."

Enviado por: Paula

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